24 de janeiro de 2011

Para Mano Lobão

As coisas são muito engraçadas. Não, não é tão engraçado não. É mais ou menos como um autor falava. Certos processos sentimentais são como uma dor de dente: É preciso cutucar no dente para ter certeza que ainda está doendo.


O Lobão conseguiu meu respeito. Sim, porque antes, ele angariava minha atenção por ter meio que uma richa com Caetano Veloso. Tanto é que Lobão escreveu uma música para o baiano chamada Para Mano Caetano. É ate engraçado, que teve um dia que o Lobão deu uma entrevista que, em certas partes, esculachava o Caetano, e foi publicada num jornal do Rio, e nesse mesmo dia, Caetano estreava a música O Lobão Tem Razão. O baiano até leu a reportagem e comentou sobre esse fato venéreo e talz. Pois bem, o Lobão só não tinha meu completo respeito, porque ele também odeia Chico Buarque. Certa feita, mandou: "Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. Até Olavo Bilac é mais moderno que ele." Particularmente, há dias em que fico só escutando Chico Buarque no You Toba. Putz, ele realmente sabe como revirar o baú de uma pessoa. Falo daquele baú do Mário Quintana, se liga? Não? Coloca no Google: O Baú Mário Quintana. Essa afirmação do Lobão ia de encontro àquilo que sinto pelo Chico. Lobão perdeu alguns pontos. Depois ele ganhou pontos ao criticar uma certa moral cristã que é muito em voga aqui no Brasil: “No Brasil quem faz sucesso fica deprimido porque não é pobre”, disse. “O Tom Jobim foi chamado de lacaio do capitalismo porque fez sucesso nos Estados Unidos. No Brasil, se cultua o voto de pobreza.” Não gosto dos Estados Unidos, mas o que ele falou da sociedade brasileira eu concordo em número e grau.
Lobão, até aí, para mim, era como um James Joyce: Um gênio, li uma ou outra coisa dele, o pouco que li fez tornar-me fã, mas sei tão pouco dele que não me sinto no direito de sair falando dele aos ventos. Era um meio termo. Gosto e discordo muito das coisas dele.

Puta que pariu. Mas ele ganhou meu respeito. Puta que o pariu. Ganhou mesmo.

Vocês sabem o Cartola, não sabem? Aquela música O Mundo É Um Moinho, sabem? Tem uns versos que dizem: Em cada esquina cai um pouco a tua vida/ Em pouco tempo não serás mais o que és. Há muito tempo venho me perdendo por aí. Meus amores de parada de lotação, como diz uma amiga, ou como dizia Vinícius, são todas tão bonitas.

Ah, minha amiga. Minha grande amiga. As coisas na vida acontecem e a gente só consegue explicar muito tempo depois. Como diria um autor: Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento.
Se liga né? Pra mim, o amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo de sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher).


Não sei se estou sabendo me expressar. Nunca sei. Tenho três leitores assíduos. Todos meus amigos. Eles sabem que, antes de justificar o título, enrolo, enrolo. De sorte que posso falar qualquer merda aqui, visto que eles têm o prazer de escutar as mesmas coisas ao vivo, em mesas de bar.

O fato é que ela me mandou uma música do Lobão que mudou de vez a visão que tenho dele. Entra pra galeria dos gênios mesmo. Numa mistura de imparcialidade e parcialidade, mando aqui para vocês:




Uma Delicada Forma de Calor

Eu me lembro
de você ter falado
Alguma coisa sobre mim
E logo hoje, tudo isso vem à tona
E me parece cair como uma luva
Agora, num dia em que eu choro
Eu tô chovendo muito mais do que lá fora
Lá fora é só água caindo
Enquanto aqui dentro, cai a chuva

E quanto ao que você me disse
Eu me lembro sorrindo
Vendo você tão séria
Tentar me enquadrar, se sou isso
Ou se sou aquilo
E acabar indignada, me achando totalmente impossível
E talvez seja apenas isso:
Chovendo por dentro
Impossível por fora

Eu me lembro de você descontrolada
Tentando se explicar
Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
Tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente

E talvez, a chuva, o cinza,
O medo, a vida, sejam como eu
Ou talvez , porque você esteja de repente,
Assistindo muita televisão

E como um deus que não se vence nunca
O seu olhar não consegue perceber
Como uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza
E o frio, uma delicada forma
De calor


Gosto demais dela. Putz. Tinha prometido a mim mesmo que não iria usar esse blog como caderno-verborrágico-sentimental. Mas não a nada a fazer. Não sei o que estou fazendo. Se um dia eu puder ver seu sorriso perto do meu, bem, se não, a vida não é mesmo uma resposta.
Despeço-me aqui. Sei que misturei minha análise crítica da música com sentimentos pessoais, perdão. Mas, com esses dias de chuva em Fortaleza, eu acho que tou chovendo muito mais que lá fora. Para ir embora do texto à Lobão, cito o mano Caetano, minha amiga: Finjo-me de vadio, mas sou romântico. Meus beijos.

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