17 de agosto de 2010

Tava pensando aqui: E se a gente fosse pegar um filme hoje?

Bem, depois de todo esse tempo tentando escrever coisas interessantes, percebi que teria que esvaziar minha lixeira. Vai aqui um assunto que pode ter utilidade (ou não).


Faz tempo que não piso na escola, não com muita freqüência. Deve ser pelo fato de agora os professores só falarem em Enem, e redação argumentativa, e mais questões Enem, e Habilidades, e Enem de novo. Cadê aquelas questões fodonas de física que envolviam dois ou três assuntos, ou aquelas sacadas em história, que o professor falava das curiosidades, ou do modo de vida das pessoas daquele tempo, com assuntos que não costumam vir nos livros? O que já era maquinal, ficou mais maquinal ainda, ler jornal pra fazer redação sobre algum tema de destaque, saber só que um corpo em movimento costuma continuar em movimento, ou que a importância dos romanos se resume ao Direito. Putz. Meu projeto agora é estudar toda a História do Brasil, mas sem nenhum objetivo que se diga do tipo construtivo, vou estudar só porque acho que é importante saber como o Brasil andou. Pode soar meio utópico e sem sentido, mas considero mais sincero e menos filho da puta do que dizer porque vai cair no vestibular. Nunca me dei muito bem com aquelas coisas que as pessoas precisam fazer para serem consideradas uma boa pessoa. Do tipo se vestir bem, para parecer responsável, afim de conseguir no futuro um emprego. Ou ser educado, para ser bem visto. Eu, particularmente, gosto de ser gentil com a maioria das pessoas, porque sei que isso é algo que é intrínseco a mim. O que eu acho foda é quando alguém se usa disso para ser bem visto, e se passar por alguém que é legal e ama as criancinhas. Ou quando uma pessoa insiste em ser humilde. Tão humilde que pensa que existe uma competição para saber quem é mais humilde. Estudar pra mim deveria ser diversão, como aquelas coisas que a gente vê que gosta de ler e vai lendo e no final termina de ler um livro de 400 páginas. Mas não aquelas coisas de ler porque vai cair no vestibular ou porque melhora a capacidade de fazer redação ou de melhor se expressar. Essas coisas de ter que fazer algo porque trará algo de bom, com segundas intenções é pura sacanagem pra mim. Se estou usando de algo para meu proveito, quando de modo bem explícito, de certa forma estou sendo muito sacana. Digo de modo bem explícito, porque não há como fugir do fato que gosto do que me convém. Ou a você mesmo. O que acho foda é usar um livro, um filme, uma camisa, uma palavra culta, uma frase famosa, do mesmo jeito que dorme com uma prostituta, usando-se dela com o objetivo de gozar, sem ao menos nem perguntar o nome da moça. Não sei se estou conseguindo me expressar. Tipo, quando uma pessoa me convida para assistir um filme ‘Cult’ sinto logo um frio na espinha. Porque geralmente um filme recebe esse epíteto quando tem um roteiro original e quando tem alguma mensagem embutida, ou quando a pessoa quer passar na cara da outra que assistiu a aquele filme israelense que mais ninguém conhece, mas que foi escolhido um dos melhores da história. Aí é o fim da picada. Mas acontece.

Acontece, como acontece o fato que realmente eu vim aqui para dar dicas de filmes (putz). Mas acho que tenho o direito de fazer isso sem ter o peso na consciência de indicar um filme sem ser um filho da puta (ou não). Falo isso porque tenho tentado me desligar dessas coisas de se fazer por obrigação, como um filme que se assiste para abrir a mente para fazer redação no Enem, que é um exemplo mais imediato, ou para alguém dizer que tem mais cultura que outras pessoas, ou ir à escola para tentar ser alguém na vida. Tomara que vocês me entendam. Se não, lembrei agora dum dia que uma amiga minha, que até então me achava um cara muito maduro para quem tem 20 anos, disse que o ex dela era o tipo do cara que só consegue gostar de outra pessoa se estiver loucamente apaixonado, um idiota, ela disse. Eu respondi, é foda... eu também sou assim. Concorda comigo? Não, sou um desses caras que só consegue gostar se estiver loucamente apaixonado. Um silêncio e um olhar muito esquisito ela lançou pra mim. Enfim, acontece.

Desde que achei uma locadora lá do lado do Cefet, a Cinéfilo, tenho ficado seguidas madrugadas acordado assistindo os filmes. É melhor assistir na madrugada. Melhor seria assistir no cinema, mas na falta, a madrugada resolve: Não tem ninguém passando na frente, pedindo pra retroceder o filme ou dizendo que está cansado e vai dormir - isso depois de eu ter começado o filme de novo. Para começar, achei, faz algum tempo um blog muito bacana que posta links de filmes para se baixar por torrent, o Vagalume Rosa:

O achei por acaso, quanto tentava achar o Encouraçado Potemkin, depois de ler um cara falando muito bem desse filme. Foi uma maravilha. Um site que tem uma porrada de filme, facílima navegação, visual bem simples e atrante, com uma sinopse, as vezes um comentário, um link de torrent, que considero muito mais seguro. Se ouço falar sobre algum filme, antes de alugar, ou baixar, consulto o Blog. Na aba Todos os Filmes, há a lista completa de filmes do blog, por ordem alfabética, num total de 1628 filmes (18 de agosto). Há desde a trilogia do Poderoso Chefão, passando por Curtindo a Vida Adoitado, O Vento Levou, Amélie Poulain, até os clássicos da Sessão da Tarde. Mas o que achei de mais sagaz era uma Nota no IMDB.

Vasculhei na net e vi que vem do inglês Internet Movie DataBase, uma espécie de Wikipédia para filmes. Com um banco de dados bem detalhado, traz fichas completas de atores, atrizes, diretores, roteiristas e demais profissionais envolvidos na produção cinematográfica. Traz também sinopses completas dos filmes e seriados, com a lista completa dos protagonistas aos figurantes. Wikipédia não no sentido pejorativo da palavra, claro, mas é porque para cada filme, o usuário (registro grátis) pode dar sua nota para o filme, desde 1 (péssimo) até 10 (ótimo), aí com uma porrada de votos, os donos do site fazem tipo uma média aritmética e tiram a nota geral do filme. Para se ter uma idéia, O Poderoso Chefão tem, até agora, 405 625 votos, contabilizando uma nota 9.1, filme mais fodástico que assisti, segundo o site, é o segundo melhor filme da história, perde apenas para Um Sonho de Liberdade, que ainda não assisti, tem a mesma nota, mas ganha por ter mais votos 511 384. E então, com tanto filme, tanta gente voltando, há obviamente, uma lista, uma lista que uso constantemente, pois penso em assistir todos os 250 mais bem votados.

Um dia desses, fui à Cinéfilo pegar um filme e acheio Mr. Smith Goes to Washington, bem adequado a esse período de política. Uma sárita política. De 1939, preto-e-branco, muito foda o filme. Depois fui pesquisar e soube que o filme causou um enorme furor na mídia estadunidense na época de seu lançamento pelo fato de mostrar a corrupção do governo dos Estados Unidos de forma tão cotidiana, o que levou alguns a chamá-lo de antiamericano. Foi banido na Alemanha Nazista e que na Itália fascista, Espanha franquista e Portugal salazarista, o filme foi dublado de maneira incorreta pela censura. Filme foda, que valeu a 113° posição no Top 250. Filme passaria despercebido por mim se não o tivesse visto na listinha. Agradecimentos, aliás, ao Tiago, ele que viu o filme, que estava na parte mais inferior da estante.

Bem, tá dado o recado aí.

Todavia (usava muito essa palavra na Redação), você pode até pensar, putz, o Filipe falou mal dos caras que indicam filmes e talz e vem e indica filmes de forma pior, colocando tudo numa lista, com notas, falta só dizer que eles são Cults e que o filme israelense ele vai assistir semana que vem pra passar na cara de alguém. Não é a minha intenção tentar me usar desses filmes para me masturbar ou sistematizar tudo loucamente como fez Lineu com a Biologia, deixando essa linda ciência às vezes chata e sem sentido. Achei muito bacana quem fez o Vagalume Rosa e a sacada da nota IMDB. Esses últimos meses estão sendo muito produtivos, como há muito tempo não era, mesmo deixando de freqüentar o cursinho, as madrugadas que eu perdi assistindo esses filmes me valeram bons sorrisos e motivos para desenferrujar o cérebro, além das boas conversas lá no Pitombeira com o Jônatas, como um bom espetinho de coração, ou com o Tiago, andando pela Praia de Iracema. Aí eu pensei que poderia agradar alguém também, alguém que estivesse querendo assistir um filme bacana e tava sem ideia qual escolher. Ou pode ainda pensar, sempre tem um filme que é esquecido. Muito difícil de acontecer. Eu, até agora, não vi nenhum filme que não tenha nota no IMDB.

E mais, levando mesmo em conta que estamos em período eleitoral, e a propaganda partidária começando hoje, vale a pena dar uma olhada uma entrevista que o Collor deu ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no ano de 1989, antes de ganhar a eleição. Vale a pena dar uma estudada no governo dele e depois assistir à entrevista. Uma coisa que muito provavelmente não cairá em nenhum vestibular e nem lhe fará ficar mais bonito ou inteligente. Estou me dispersando.

Sei lá o que esses candidatos de 2010 tem mesmo na cabeça. Porque se perceber bem, nas propagandas políticas, tirando as partes feitas para o eleitor chorar, a propaganda não faz nenhum sentido.

Fica a dica.



9 de agosto de 2010

Rotina



Eu não sou Sherlock, mas às vezes um movimento ou olhar pode revelar muito, mais do que uma biografia não autorizada. Foi assim quando vi o velho.

Não precisei olhar duas vezes para ver que aquele velho cabisbaixo já caminhava a tanto tempo que esquecera aonde ia. Seus joelhos tremiam a cada passo. Seus cabelos ralos poderiam contar muitas histórias, a maioria tão banal. Mas e daí? Sempre existem aquelas que valem um conto.

Num instante, ele pára.

Continuo observando o velho , vejo agora sua face. Ele parece ter acordado de um longo transe. Tem rosto de povo. Tão diferente, ou tão familiar: pedreiro, carteiro, padeiro e mais uma infinidade de eiros no mesmo rosto, ou nenhum. Suas mãos trêmulas de dedos nodosos, tateiam os bolsos à procura de um volume inexistente. Desista velho.

Ele finalmente levanta os olhos. Vira-se e olha através da rua e de seus passos.

- Algum problema senhor?

- Oh, não tenho certeza garoto – disse ainda confuso –, acho que... acho que perdi algo. Algo pelo caminho. – rouquejou desviando o olhar novamente para rua.

Segui seus olhos. Só uma coisa me veio à cabeça enquanto procurava algo pra olhar:

- É velho. Eu também.