30 de janeiro de 2011

Respeita a polícia, vagabundo!

Puta que pariu. Puta que o pariu. Dizem que ela existe para ajudar. Dizem que ela existe para proteger. Eu sei que ela pode te parar. Eu sei que ela pode te prender. Você acredita no Estado? Eu fazia umas piadas de vez em quando. Eu dizia, quando aparecia a polícia fazendo a ronda: olha aí galera, o braço armado do Estado mantendo a ordem!. Eu acredito no Brasil. Sério. O Andrey, o Eduardo e o Geraldo podem garantir. Não vou mentir. Eu acreditava. Votei nos políticos nos quais eu acreditava que poderiam ser os baluartes de uma futura esperança. Esperança de Liberdade. Uma Liberdade que tanto me aflige por ser tanto bonita quanto difícil. Uma crença muito insipiente, saca? Acredito no Brasil mais por um sentimento qualquer de esperança do que pelo o que eu vejo nas ruas. Você sabe o que é ficar sem respirar de uma hora para outra? Você sabe o que é se vomitar tentando retornar ao seu estão normal? Se vomitar. Você sabe o que é chegar para aqueles que deveriam ser os seus defensores e se sentir ofendido? Você sabe o que é se sentir ofendido por alguém que se acha no direito de te bater? Por te achar vagabundo? Eu acreditava no Brasil. Poucas vezes eu senti raiva como estou sentindo agora. Poucas vezes eu me senti tão impotente por depender de um direito que, ao invés de me escutar e me ajudar, manda eu me retirar senão vou sofrer as conseqüências. Eu via na televisão os protestos que aconteciam no mundo. Pessoas muito distantes de mim levando spray de pimenta no rosto ou gás lacrimogêneo com o objetivo de serem dispersas. Eu me sentia muito distante disso. Para ser sincero, eu sentia uma força que me impelia para acreditar no meu mundo. Algo meio que, fazendo minha parte, estudando a sociedade, entendendo-a, poderia compreendê-la e, quem sabe, ajudar na sua transformação. Puta que pariu, cara. Que país é esse em que o próprio país não acredita no brasileiro? Perdi a pouca esperança. O Brasil que a gente torce de quatro em quatro anos, que a gente saiu na rua, no centro de Fortaleza, para pedir respeito do Enem, e protestar contra o aumento salarial dos parlamentares, não existe. O Brasil existe para manter você na lei. Na lei do silêncio. Na lei do mais forte. Vocês podem pensar: Conhecendo o Filipe, boa coisa ele não estava fazendo para estar falando isso. Eu, como também a maioria daquelas outras pessoas, não estava fazendo nada. Vou narrar. Prestem atenção. Eu estava no pré-carnaval da Praia de Iracema, uma festa muito conhecida aqui em Fortaleza. Vi muitos conhecidos meus. Paquerei à vontade, me diverti pacas. Coisas que se faz em uma festa. Bebe-se? Sim, bebe-se, para se soltar, ficar mais socializável. Era noite. Era não, é noite. A pouco tempo eu estava lá.De forma muito natural eu escutei a sirene do Ronda do Quarteirão se aproximando. Uma aglomeração daquela precisa de um policiamento reforçado. Posso ficar na minha, afinal, sou um bom cidadão. Era naquela bifurcação que existe um posto de gasolina perto da Praia de Iracema.

Quando eu era pequeno, tinha grande medo de cachorro. Todo cão era um predador em potencial. Sempre saia correndo. E o cachorro, a me ver apavorado, corria atrás de mim. Devia ser cenas até risíveis: Uma criança correndo pela rua, gritando, com um cãozinho atrás. Depois meu pai me ensinou que bastaria não demonstrar medo e não sair correndo, que nada iria acontecer. E era verdade, depois que mudei minha postura, nenhum cachorro correu mais em meu encalço. Atitude mais ou menos parecida eu tenho, tinha, com a polícia. O que você entende por polícia? Eu entendia que eu podia ficar na minha. Bastava eu ficar na minha para a viatura passar direto, pois, afinal, eu não estava fazendo nada de errado. Ela iria passar direto. Por mais que as pessoas fugissem tossindo quando a viatura passava por elas, eu me senti incólume, me senti até com algum sentimento de segurança, a viatura passando fazendo a ronda, mantendo a política da boa vizinhança. Quando um ladrão te rouba, você chama a polícia. Quando a polícia te humilha? O que você faz? Vai chamar quem? A polícia? A viatura passou na minha frente. Eu, inconsciente, fiquei parado, esperando passar. Por que aquelas pessoas estavam fugindo tossindo sem parar? Nem as escutei. Pensei que, estando no meu canto, se não me mexesse, se não fugisse, eu estaria com a razão, e à salvo. Fiquei parado, sozinho, do lado da viatura. Você sabe o que é perder o fôlego de uma hora para outra? Eu não sabia. De repente você sente como se perdesse o controle. Não sabe o que fazer, pois existe algo dentro de você queimando feito brasa. Sua primeira reação é se encolher. Mas a dor é grande. Como se existisse um fogo nas suas narinas. De repente. Vem vê nem pra quê. Vou ser sincero. Como a dor parecia que vinha do ar, eu coloquei minha blusa no meu nariz, reação normal de quem está passando por um local fédito. Resultado: eu me vomitei. Quando coloquei a blusa para proteger o nariz, encolhido, com a cabeça baixa, eu vomitei. Não agüentei. Não conseguia respirar tal era a dor que eu sentia no meu nariz. Fui burro. Só agora, escrevendo o texto, percebo que acreditei no conto do vigário. Acreditei que a polícia existe para manter a lei. Manter a Lei do Silêncio. Isso por que, depois de ficar vomitando no meio da rua, uma espécie de constipação alcoólica-lacrimogêniosa, tomas vários goles de água que meus amigos ofereciam, inalar água, água, colocar uma mão encaxaida na outra em forma de concha e tentar respirar a água para ver se a dor da queimação passava, eu fiquei muito puto. Quem foi o responsável por isso? A polícia! Você, que está lendo, pode imaginar que estou sendo maluco, por fazer disso um caso alarmante, ou que isso mais parece uma teoria da conspiração. Você tem o seu direito. Tanto quanto eu. Tenho meu direito de cobrar por um serviço mal resolvido. Sujo, vomitado, todo molhado, eu fui em direção à viatura. Ela ainda representa o Estado. O Estado existe para me proteger. Ordem superior. Foi isso o que eu escutei. Escutei de um cara que parecia não ter muito mais que minha idade. Quantos anos você tem? Quantos anos você acha que eu tenho? Ele me respondeu, secamente. Espinha no rosto. Óculos e um rosto que me te encara como se fosse um cachorro policial. Eu estava parado, no meu canto, e vocês passaram com a viatura. Eu me senti mal cara, como vocês fazem isso comigo? Ordem superior. Como assim ordem superior? Com uma ordem superior vocês se acham no direito de machucar as pessoas? Que polícia da boa vizinhança é essa? Cara, é melhor você sair daqui, para o seu bem. Como é? Não estou entendendo. Uns quatro caras chegaram por de trás do policial que eu estava conversando. O que está acontecendo aqui? Cara, se não quiser sofrer as conseqüências, sai daqui e vai procurar tua turma. Quatro caras parrudões, cassetetes na mão e a determinação de manter tudo em seu lugar.

Eu aprendi que a pessoa só recorre à força se não tiver idéia na cabeça. Eu chorei. Sério mesmo. No calor do momento lágrimas de revolta se juntaram às lágrimas causadas pelo gás que eles deixaram no ar. As pessoas que me conhecem sabem como eu tenho algumas esperanças, que, mesmo que aparentemente utópicas, tem como objetivo uma boa sociedade. Às vezes elas meio que parecem distantes da realidade, mas são coisas que me fazem acreditar num mundo melhor. Trocando em muídos, sou um Sonhador, no sentido mais caricatural da palavra, mesmo. Chorei como uma criança que descobre que não adianta chorar para ganhar algo que se quer. Chorei porque minhas mucosas ardiam muito. Eu acreditava no Estado. Acreditava mais como se acredita em Deus, como algo que você sabe que existe, mas não consegue provar a existência, e acredita na salvação. Há muito tempo eu acreditei em Deus. Deixei de acreditar no dia em que vi que meu caminho só eu posso trilhar e só eu seria o único responsável direto e indireto pelas minhas escolhas. Eu achava o Estado, como se pode ver pela postagem anterior, como um mal necessário. Um mal que, ao mesmo tempo que reprime, protege a sociedade dela mesma. Mas eu estava enganado. Eu estava certo, não sei. Fiquei muito triste mesmo. O Estado é Deus. E ele não precisa que alguém acredite nele. Ele escreveu certas leis que você tem que obedecer. Ele te ama e te protege. Mas se você não o obedecer, vai para um lugar de fogo e aflições por toda a eternidade. Difícil distinguir se estou falando de Deus ou do Estado, não? Ele se faz representar sob a determinação de manter tudo em seu lugar.

O Estado procura ser forte. Colocar-se acima das pessoas. Tenta, ao contrário de encarnar a vontade coletiva da nação, criar uma identidade que a sociedade se identifique. Sempre pensei que só recorre à força física quem não tem força nas idéias. E o fato de pensar que aqueles guardas tinham mais ou menos a minha idade, não me deixa menos triste. Quando a gente é mais novo, que começa a criar as idéias socializantes, começa a se revoltar contra algo que acha injusto, sonha com um futuro no qual seus companheiro o ajudarão numa empreitada de igualdade e respeito.

Nada vai mudar. Os policiais continuaram ali e, com certeza, nas próximas aglomerações, lançarão gases para dispersar a multidão. Acho que lançaram demais. Deve haver alguma recomendação que os aconselhe de ir soltando aos poucos gases irritantes para as pessoas pensarem que estão começando a passar mal e irem embora para casa. Ordem superior. Não consegui respirar. Me encolhi o máximo que pude. Reação involuntária de vomitar. Reação voluntária de mandá-los à puta que os pariu. Com certeza nem os policiais próprios sabem o que estão fazendo. Devem pensar que alguém andando de madrugada no meio da rua ou é o filho do delegado que saiu tarde demais da casa da namorada ou é um bandido procurando sua próxima vítima. Usam como justificativa a ordem de superiores para julgar quem é bom e quem é ruim. É muito fácil julgar quem é o covarde quando se está com uma arma na mão.

Meus amigos tentaram me consolar me dando uns goles de bebida e uns tapinhas camaradas nas costas. Não consegui beber. Filipe, tu é maluco? Pedir satisfação pra policial? Filipe, ainda bem que eles conversaram contigo, ainda bem que tem muita gente olhando, se tu fosse negro, mal vestido e numa periferia, BUM, quer falar o quê? BUM, fala de novo que eu não tou escutando, BUM marginal, BUM ladrão, BUM para tu aprender. Aprender o quê? Que tenho que ficar calado senão vou sofrer as conseqüências? Estranho isso, eu sou brasileiro. Mas parece que o Brasil não existe no chão onde piso. Está acima de mim. Como uma nevoa que me impede de saber para onde estou indo. Eu sei que eu fiquei sem respirar, eu sei que eu me vomitei, eu sei que um policial me ameaçou. Eu sei que sou um cara de bem. O Brasil sabe disso? Deve saber, mas finge não acreditar. Há 500 anos essa banca manda a vera, abaixou a cabeça já era...



27 de janeiro de 2011

Hey! Teacher! Leave them kids alone!

Lembra do Castelo Ra-Tim-Bum? Então senta que lá vem a história. (Não, não tem nada a ver com o programa da Tv Cultura)


Gosto de estudar. Gosto mesmo. A leitura do que outras pessoas pensaram pode nos ser útil quando formos construir nossa própria imagem do mundo e a vida. Todas as formas de conhecimento tem algo válido a acrescentar. Exceto inglês, que eu acho uma língua tão prostituída. Aliás, falando nisso, eu fico meio, meio não, fico muito puto com qualquer tentativa de aliciamento do conhecimento. Conhecimento é um bem. Não pode ser tomado como, já havia disso isso em outro post, uma prostituta, por exemplo, que se come e se paga sem ao menos saber seu nome, sua história, medos, esperanças. Sim, educação é a ponte que se atravessa a realidade até à liberdade, não um corpo que satisfaz seus desejos e frustrações. Inglês é uma língua prostituída porque o único objetivo que se tem para aprendê-la é para se fomentar o currículo, putz, tem tanto autor bom aí na língua inglesa e ninguém fala nada, Joyce, Hemingway, Kerouac, e ninguém fala nada de se aprender inglês como conhecimento. Só para currículo. Eu fico muito puto. Admito que a prostituição do Inglês foi feita por pessoas, e essa não é uma característica dessa língua. A maiorias das músicas que eu gosto estão em Inglês. Deixe-me explicar, por favor.

Tenho um desprezo intrínseco pelo dinheiro. E ficar tentando adaptar a própria realidade em busca de um bom currículo para conseguir dinheiro eu acho loucura. Desprezo mesmo. É só papel, caralho. Não te alimenta, não te dá vida, nem te faz respirar, não compra nada. Isso mesmo: dinheiro não compra nada. Mas Filipe, não é com dinheiro que as pessoas trocam as coisas que necessitam? Sim, é sim. Mas repito, em auto e bom som. Dinheiro não compra nada. Você que compra alguma coisa. Diferença. Dinheiro é muito importante sim. Quero, no futuro ter um bom emprego com o qual eu consiga tranqüilidade e segurança. Eu tenho dinheiro aqui na carteira, olhe, mas sei olhar para ele e dizer quem é o dono de quem. O que o dinheiro faz pelas pessoas não é nada comparado o que elas fazem pelo dinheiro. Tenho um certo nojo, portanto da educação que tem como objetivo o dinheiro. Não quero uma educação que não seja liberdade.

Quando eu me preparava para o vestibular, perguntei a um colega do colégio, qual seria seu curso escolhido: Direito. Pow, que bacana, mas o que tu pretende fazer na área do direito? Quero fazer concurso. Outra: Medicina, pra quê?, para assumir a clínica do meu pai. Particularmente, quando houve aquele acidente na região serrana, vi no jornal que estava sendo preparado um hospital de campanha. Médicos do exército e Médicos voluntários fariam operações de emergência e prestariam socorro às vítimas das chuvas. Pense como me deu uma vontade de fazer Medicina. E aí vem um cara que diz que quer fazer um curso porque terá emprego garantido. Perceba, ele está adaptando todo um modo de vida e anos de dedicação apenas para ter um salário garantido no fim do mês. Mas, você, leitor, pode questionar: Não é digno tomar uma escolha na vida a fim de se ter segurança financeira? Acho essa pergunta tão ambígua, que se torna capciosa mais para que a faz do que para quem a responde. Ele faz da vida o que ele quiser, mas eu acho uma sacanagem se usar da prática médica mais para crescer economicamente do que para salvar vidas. Ta aí um juramento que não me deixa triste:

Juramento de Hipócrates

"Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

O juramento é bonito. Distante da realidade, mas bonito. Digo e repito, é bom ganhar dinheiro, pois, afinal, é preciso sobreviver, mas no final você tem que dizer quem é o dono de quem. Você não vai trabalhar toda a vida de graça, é claro, na Grécia quem trabalhava era escravo, mas também não usar sua profissão com objetivo único de ganhar dinheiro.

Não muito raro, também ficava muito puto quando alguém pergunta por que tem de aprender todas essas fórmulas de física e química se quer mesmo é ser psicólogo. Ou que cargas d’água tem que saber colocação pronominal se quer ser mesmo engenheiro. Antes eu ficava muito puto. Agora não, deixo o rancor guardado no coração mesmo. Sério mesmo. Putz, deve ser até ignorância minha mesmo, pode ser. Deve ser mesmo. Só que não consigo juntar a palavra liberdade com a justificativa que certas pessoas dão para fugir das coisas que não lhe agradam, ou pior, usando nesse contexto, o pretexto de dizer que a matéria que mais odeia não serve pra nada. Que não vê razão de estudar. Às vezes eu fico tão angustiado falando de certos assuntos, que me dá uma coisa, que não consigo concatenar as idéias direito. Vai um vídeo para a galera descansar.



À primeira vista, um desavisado olha pro título e pensa que finalmente chegou o teórico que dará base intelectual ao seu ódio à escola e assim terá uma justificativa para gazear as aulas. Muito pelo contrário, vejo o pensamento desse cara como quase que algumas revoltas minhas. Fala que não é um certificado que capacita um profissional mas sim o interesse e o conhecimento adquirido. Ele não critica o conhecimento em si, ele ataca é institucionalização dele. Eu nunca li esse livro dele, pra ser sincero, entrou pra minha lista. Mas, minhas revoltas, conheço bem.

Nunca gostei de escola. Sempre gostei de estudar. Do mesmo modo que um autor dizia "E parecia-lhe, mais do que nunca, que a humildade é o disfarce de sombrias iniqüidades", percebo muitas escolas como o disfarce para continuidade de uma sociedade preconceituosa e desigual. O educar é substituído pelo doutrinar. O lance do vestibulando que quer fazer medicina só pela clínica acaba se tornando mais um caso de vitória de uma ideologia filha da puta. Nas escolas por que passei, não lembro nenhuma sequer tentar me fazer pensar por mim mesmo. Exceto, às vezes, as aulas do Nélson Campos, que ademais, os alunos nem iriam usar muito, porque não caía no vestibular, então não tinha porque se aprofundar em assuntos críticos. O que era incentivado, pelo contrário, era uma espécie de competição, na qual o melhor aluno seria “o que quer alguma coisa na vida” e o resto seria os frentistas e empregadas do melhor aluno. E pela realidade que sei de outros colégios, a história não varia tanto assim. Certo que, se você for um aluno aplicado, estudioso, suas chances de ter uma vida confortável vão aumentar substancialmente, e de modo paralelo, você não gostar de estudar, as chances de você não conseguir boa condição de vida são igualmente substanciais. O foda é fazer disso um motivo para se depreciar quem não está de acordo com os padrões da escola. Ser alguém na vida acaba se identificando com ter um bom emprego, e dinheiro no bolso pode acabar se tornando o objetivo último de quem abre um livro para estudar. Isso é o que eu acho sacanagem. É a partir daí que a galera, porque não é instruída a gostar de estudar, mas sim estudar para ganhar dinheiro, acaba pensando que certos conteúdos, por não serem úteis na sua futura profissão, são irrelevantes e, quem sabe, até prejudiciais à sua formação. Isso eu acho uma sacanagem maior ainda, depreciar uma forma de conhecimento. É ignorância pura.

Estou pensando agora em alguns amigos meus, um familiar também, que nem terminaram o ensino fundamental e estão até bem de vida. Tenho medo de estar a ser ignorante também. Não posso discriminar alguém pelo fato de não gostar de ler, por exemplo. Poderei ser um ignorante da pior espécie. Mas também não consigo esconder a angústia de ver tanta gente tendo acesso à formas de conhecimento tendo como objetivo não a sapiência em si, mas a acumulação primitiva de capital, por assim dizer. E angústia maior ainda, saber que há tanta gente sem qualquer amparo por políticas de educação. A educação nesse país não é levada à sério.

Vocês estão sacando o que eu quero dizer? Tenho a impressão de que estou escrevendo a cada dia pior. O vídeo que postei, vai, portanto, ao encontro do que eu digo, na medida em que a escola não deve ser um lugar que prende o aluno ao sistema, que o torna um ser subserviente às necessidades do mercado. A escola deveria ser um instrumento de liberdade, aonde o aluno vai para aprender a ter consciência de sua liberdade e decidir por conta própria, e não condicionado por ideologias, a seguir o caminho que quiser, e onde o professor não vá apenas para conseguir levar comida para dentro de casa, mas também para ser um dos instrumentos que vai levar a liberdade à outras pessoas.

É com triste resignação que eu sei que o que falo é bonito, mas impraticável. A sociedade é complexa. Não posso imaginar que a razão de determinadas atitudes das pessoas seja apenas o produto de uma educação mal-intencionada. As pessoas são complexas. Até porque a própria atitude de uma pessoa pode convergir, por decisão autentica ou não, para que queira receber uma educação que se encaixe em suas necessidades existenciais, ou que só queria enxergar o que lhe convém. Seria ditatorial se eu quisesse impor uma liberdade que eu acredito como única. Tolice até. A busca pela felicidade já levou tanto a democracia à Atenas como Pol Pot ao Camboja.

As pessoas são complexas. E acho que é isso o que mais me atrai. E ao mesmo tempo o que mais me deixa triste. Mas a atração é irresistível.

Todos os projetos que eu tenho, tantos parecem impraticáveis. Talvez serei feliz somente no dia em que EU mesmo conseguir minha liberdade. Mas tenho também a impressão que só serei realmente livre quando não for mais que osso. Isso é só uma divagação. Das tantas que eu tenho.

24 de janeiro de 2011

Para Mano Lobão

As coisas são muito engraçadas. Não, não é tão engraçado não. É mais ou menos como um autor falava. Certos processos sentimentais são como uma dor de dente: É preciso cutucar no dente para ter certeza que ainda está doendo.


O Lobão conseguiu meu respeito. Sim, porque antes, ele angariava minha atenção por ter meio que uma richa com Caetano Veloso. Tanto é que Lobão escreveu uma música para o baiano chamada Para Mano Caetano. É ate engraçado, que teve um dia que o Lobão deu uma entrevista que, em certas partes, esculachava o Caetano, e foi publicada num jornal do Rio, e nesse mesmo dia, Caetano estreava a música O Lobão Tem Razão. O baiano até leu a reportagem e comentou sobre esse fato venéreo e talz. Pois bem, o Lobão só não tinha meu completo respeito, porque ele também odeia Chico Buarque. Certa feita, mandou: "Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. Até Olavo Bilac é mais moderno que ele." Particularmente, há dias em que fico só escutando Chico Buarque no You Toba. Putz, ele realmente sabe como revirar o baú de uma pessoa. Falo daquele baú do Mário Quintana, se liga? Não? Coloca no Google: O Baú Mário Quintana. Essa afirmação do Lobão ia de encontro àquilo que sinto pelo Chico. Lobão perdeu alguns pontos. Depois ele ganhou pontos ao criticar uma certa moral cristã que é muito em voga aqui no Brasil: “No Brasil quem faz sucesso fica deprimido porque não é pobre”, disse. “O Tom Jobim foi chamado de lacaio do capitalismo porque fez sucesso nos Estados Unidos. No Brasil, se cultua o voto de pobreza.” Não gosto dos Estados Unidos, mas o que ele falou da sociedade brasileira eu concordo em número e grau.
Lobão, até aí, para mim, era como um James Joyce: Um gênio, li uma ou outra coisa dele, o pouco que li fez tornar-me fã, mas sei tão pouco dele que não me sinto no direito de sair falando dele aos ventos. Era um meio termo. Gosto e discordo muito das coisas dele.

Puta que pariu. Mas ele ganhou meu respeito. Puta que o pariu. Ganhou mesmo.

Vocês sabem o Cartola, não sabem? Aquela música O Mundo É Um Moinho, sabem? Tem uns versos que dizem: Em cada esquina cai um pouco a tua vida/ Em pouco tempo não serás mais o que és. Há muito tempo venho me perdendo por aí. Meus amores de parada de lotação, como diz uma amiga, ou como dizia Vinícius, são todas tão bonitas.

Ah, minha amiga. Minha grande amiga. As coisas na vida acontecem e a gente só consegue explicar muito tempo depois. Como diria um autor: Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento.
Se liga né? Pra mim, o amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo de sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher).


Não sei se estou sabendo me expressar. Nunca sei. Tenho três leitores assíduos. Todos meus amigos. Eles sabem que, antes de justificar o título, enrolo, enrolo. De sorte que posso falar qualquer merda aqui, visto que eles têm o prazer de escutar as mesmas coisas ao vivo, em mesas de bar.

O fato é que ela me mandou uma música do Lobão que mudou de vez a visão que tenho dele. Entra pra galeria dos gênios mesmo. Numa mistura de imparcialidade e parcialidade, mando aqui para vocês:




Uma Delicada Forma de Calor

Eu me lembro
de você ter falado
Alguma coisa sobre mim
E logo hoje, tudo isso vem à tona
E me parece cair como uma luva
Agora, num dia em que eu choro
Eu tô chovendo muito mais do que lá fora
Lá fora é só água caindo
Enquanto aqui dentro, cai a chuva

E quanto ao que você me disse
Eu me lembro sorrindo
Vendo você tão séria
Tentar me enquadrar, se sou isso
Ou se sou aquilo
E acabar indignada, me achando totalmente impossível
E talvez seja apenas isso:
Chovendo por dentro
Impossível por fora

Eu me lembro de você descontrolada
Tentando se explicar
Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
Tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente

E talvez, a chuva, o cinza,
O medo, a vida, sejam como eu
Ou talvez , porque você esteja de repente,
Assistindo muita televisão

E como um deus que não se vence nunca
O seu olhar não consegue perceber
Como uma chuva, uma tristeza, podem ser uma beleza
E o frio, uma delicada forma
De calor


Gosto demais dela. Putz. Tinha prometido a mim mesmo que não iria usar esse blog como caderno-verborrágico-sentimental. Mas não a nada a fazer. Não sei o que estou fazendo. Se um dia eu puder ver seu sorriso perto do meu, bem, se não, a vida não é mesmo uma resposta.
Despeço-me aqui. Sei que misturei minha análise crítica da música com sentimentos pessoais, perdão. Mas, com esses dias de chuva em Fortaleza, eu acho que tou chovendo muito mais que lá fora. Para ir embora do texto à Lobão, cito o mano Caetano, minha amiga: Finjo-me de vadio, mas sou romântico. Meus beijos.

22 de janeiro de 2011

Para Jana, com amor!

"Bora lá. Agora que, depois de muitas aulas particulares, consegui levantar uma grana e comprar meu PC, vou poder escrever mais frequentemente. Sim, porque às vezes eu inté escrevia um ou outro texto à mão e ficava com preguiça de ir na lan house digitar tudo. Sem falar do gasto energético de ir até a outra esquina. É de lascar. Minhas textos-merdas aqui serão mais frequentes, portanto. Ou não, né?"

Definição da palavra ILUSÃO: Pegar Paranjana no terminal da Lagoa e querer descer em Parangaba.

Um dia tava de bobeira sem nada pra fazer. O que não é coisa rara de acontecer, na verdade. Comecei a ligar para uns amigos meus para ver se a gente podia arrumar uma saída aí. Falei com uma galera e ficou marcado que assistiríamos um filme no Norte Shopping. Nessa época não fazia muito tempo que havia chegado em Fortaleza, de sorte que morava na Praia de Iracema e só conhecia o Centro, Aldeota, Mucuripe, esses cantos que fazem parte da fortaleza bela. Nem tão bela assim, mas tudo bem. Perguntei a menina que trabalhava lá em casa onde era o Norte Shopping, lá na Bezerra, como eu faço pra chegar lá?, daqui tuh vai ter que pegar o Paranjana. Paranjana, que nome estranho... o que quer dizer? A menina tava varrendo a casa, parou de varrer, olhou pra mim e mandou, eu acho que é a mistura de Parangaba com Messejana, porque anda em todos os terminais... achei estranha a explicação dela, porque aglutinar só dois nomes? só depois eu viria a andar realmente pela Av. Paranaja, mas é melhor tuh ir logo, porque daqui demora pra chegar lá. Beleza, depois de um tempo fui lá para a frente do Hospital Curandaris (na realidade se escreve Cura D`ARS), na Costa Barros e fiquei esperando. Estava tudo correndo bem, muito bem, até. O ônibus veio bem rápido, nem precisou esperar muito, mó limpeza. Como não estava muito acostumado a pegar busão, nem percebi o que com o tempo meus olhos aprenderam com o tempo a considerar como óbvio: Quando, à noite, não há luz dentro do busão, ou ele está indo para a garagem, ou então está lotado até a tampa.

Tenho uma teoria. Criança não pensa. Pense bem (agora que você não é mais criança), você se lembra dos seus pensamentos de quando era pequeno? Talvez você lembre que tinha muitos sonhos, planos mirabolantes, daqueles que invalidam todas as leis que regem o espaço-tempo. Tudo bem, criança pensa. Beleza, mas, no meu caso, eu lembro, havia tardes onde eu fivaca deitado no chão perto da escada que dava para o quintal imaginando que o Ser Humano surgiu do Tiranossauro Rex, por que ele não era o rei dos dinossauros? Então só ele poderia dar origem ao ser humano. De sorte que um tricerátops deu origem aos bois e às vacas. Deu pra sacar? Minha transição para o mundo real demorou muito. Acredito que ainda hoje está se processando, por que quando vi aquele amontoado de gente chegando ao meu encontro, não tive nenhum sentimento de ilusão. Não estabeleci nenhum plano, rota de fuga, nada. Quando vi as portas traseiras se abrindo para mim, senti um vento quente saindo, mormaço mesmo, todas aquelas pessoas penduradas olhando para mim, como que pensassem, "outro...". Tudo bem, eu subi, não vivia na realidade mesmo..

Algumas coisas me surpreenderam. Por mais que o ônibus chacoalhasse, ninguém saía do lugar. Era como o Lego, lembra? Aquele brinquedo de encaixar? As pessoas estavam tão bem (ou mal) encaixadas, que era quase impossível cair após uma freada brusca do ônibus. Sim, porque as pessoas podiam se escorar uma nas outras por todo o ônibus, só não as pessoas da frente, que se escoravam no vidro pára-brisas. Outra coisa foi que eu comecei a descobrir o caráter relativo das verdades que achava incontestáveis. Quem tem boca vai a Roma. No Paranjana você vai parar em Roma se você não tive boca. Por que tem que ter muita goela pra soltar um "Vai desceeeeeeeeeer motorista!" para conseguir parar no ponto certo. Tem que ser um grito bem forte mesmo, para que o motorista tenha misericórdia de sua necessidade de desembarcar, e que as pessoas que se amontoam na sua frente lhe dêem alguns centímetros de espaço. É porque não existe mais Paranjana, mas, creio eu, havia uma lei inconsciente na mente dos usuários da linha: Nunca se escore na coluna de ferro, ou no balaústre, que é o nome correto daquele troço, essas barras de ferro que saem do encosto da cadeira e vão até o teto. Isso, nunca use aquelas barras para se escorar. Isso porque certa feita, estava eu como que abraçado a um desses balaústres quando uma pessoa que estava mais atrás pediu passagem. Como não podia ir para mais nenhum lugar, olhei em volta para as outras pessoas, com aquele olhar que você lança quando espera que um desconhecido tenha clemência da sua situação e se solidarize. Então descobri a fatídica lei. Quanto mais a pessoa forçava a passagem, eu sentia meu osso esterno, esse que fica na frente do tórax ligado às primeiras costelas, tocando levemente, por dentro, a minha coluna vertebral. Desnecessário falar que os pulmões e o coração ficam entre o esterno e a coluna, não? No mais, quando cheguei no meu destino, estava pior do que quando me levantei do sofá de casa para tomar banho porque estava fedendo, segundo a minha mãe, à macaco escaqueado à tapa.

Na volta, bem, na volta aproveitei que meu pai estava por perto e pedi para ele vir me pegar de carro. =)

Essa é a minha história do Paranjana. Com certeza, qualquer pessoa que embarcou nas linhas 041 ou 042 entre 1994 e 2010 deve ter muitas outras para contar. Descenessário falar também das infames piadinhas, como essa que minha tia acabou de contar quando viu que eu estou a escrever sobre o Paranjana, aquela que o motorista vinha em pé e o trocador de moto-taxi. Sentiu o drama, né?

Agora, para ir almoçar na casa da minha avó aos domingos, que fica perto da Oliveira Paiva, terei que pegar Parangaba-Papicu-Oliveira Paiva.

Interessante notar que agora são 4 linhas que fazem o percurso Parangaba-Papicu: O via Montese(44), o Via Santos Dumont(38), o Via Aeroporto(66) e mais esse. Interessante notar também...

- Desce negada, que vai encerrar!