22 de janeiro de 2011

Para Jana, com amor!

"Bora lá. Agora que, depois de muitas aulas particulares, consegui levantar uma grana e comprar meu PC, vou poder escrever mais frequentemente. Sim, porque às vezes eu inté escrevia um ou outro texto à mão e ficava com preguiça de ir na lan house digitar tudo. Sem falar do gasto energético de ir até a outra esquina. É de lascar. Minhas textos-merdas aqui serão mais frequentes, portanto. Ou não, né?"

Definição da palavra ILUSÃO: Pegar Paranjana no terminal da Lagoa e querer descer em Parangaba.

Um dia tava de bobeira sem nada pra fazer. O que não é coisa rara de acontecer, na verdade. Comecei a ligar para uns amigos meus para ver se a gente podia arrumar uma saída aí. Falei com uma galera e ficou marcado que assistiríamos um filme no Norte Shopping. Nessa época não fazia muito tempo que havia chegado em Fortaleza, de sorte que morava na Praia de Iracema e só conhecia o Centro, Aldeota, Mucuripe, esses cantos que fazem parte da fortaleza bela. Nem tão bela assim, mas tudo bem. Perguntei a menina que trabalhava lá em casa onde era o Norte Shopping, lá na Bezerra, como eu faço pra chegar lá?, daqui tuh vai ter que pegar o Paranjana. Paranjana, que nome estranho... o que quer dizer? A menina tava varrendo a casa, parou de varrer, olhou pra mim e mandou, eu acho que é a mistura de Parangaba com Messejana, porque anda em todos os terminais... achei estranha a explicação dela, porque aglutinar só dois nomes? só depois eu viria a andar realmente pela Av. Paranaja, mas é melhor tuh ir logo, porque daqui demora pra chegar lá. Beleza, depois de um tempo fui lá para a frente do Hospital Curandaris (na realidade se escreve Cura D`ARS), na Costa Barros e fiquei esperando. Estava tudo correndo bem, muito bem, até. O ônibus veio bem rápido, nem precisou esperar muito, mó limpeza. Como não estava muito acostumado a pegar busão, nem percebi o que com o tempo meus olhos aprenderam com o tempo a considerar como óbvio: Quando, à noite, não há luz dentro do busão, ou ele está indo para a garagem, ou então está lotado até a tampa.

Tenho uma teoria. Criança não pensa. Pense bem (agora que você não é mais criança), você se lembra dos seus pensamentos de quando era pequeno? Talvez você lembre que tinha muitos sonhos, planos mirabolantes, daqueles que invalidam todas as leis que regem o espaço-tempo. Tudo bem, criança pensa. Beleza, mas, no meu caso, eu lembro, havia tardes onde eu fivaca deitado no chão perto da escada que dava para o quintal imaginando que o Ser Humano surgiu do Tiranossauro Rex, por que ele não era o rei dos dinossauros? Então só ele poderia dar origem ao ser humano. De sorte que um tricerátops deu origem aos bois e às vacas. Deu pra sacar? Minha transição para o mundo real demorou muito. Acredito que ainda hoje está se processando, por que quando vi aquele amontoado de gente chegando ao meu encontro, não tive nenhum sentimento de ilusão. Não estabeleci nenhum plano, rota de fuga, nada. Quando vi as portas traseiras se abrindo para mim, senti um vento quente saindo, mormaço mesmo, todas aquelas pessoas penduradas olhando para mim, como que pensassem, "outro...". Tudo bem, eu subi, não vivia na realidade mesmo..

Algumas coisas me surpreenderam. Por mais que o ônibus chacoalhasse, ninguém saía do lugar. Era como o Lego, lembra? Aquele brinquedo de encaixar? As pessoas estavam tão bem (ou mal) encaixadas, que era quase impossível cair após uma freada brusca do ônibus. Sim, porque as pessoas podiam se escorar uma nas outras por todo o ônibus, só não as pessoas da frente, que se escoravam no vidro pára-brisas. Outra coisa foi que eu comecei a descobrir o caráter relativo das verdades que achava incontestáveis. Quem tem boca vai a Roma. No Paranjana você vai parar em Roma se você não tive boca. Por que tem que ter muita goela pra soltar um "Vai desceeeeeeeeeer motorista!" para conseguir parar no ponto certo. Tem que ser um grito bem forte mesmo, para que o motorista tenha misericórdia de sua necessidade de desembarcar, e que as pessoas que se amontoam na sua frente lhe dêem alguns centímetros de espaço. É porque não existe mais Paranjana, mas, creio eu, havia uma lei inconsciente na mente dos usuários da linha: Nunca se escore na coluna de ferro, ou no balaústre, que é o nome correto daquele troço, essas barras de ferro que saem do encosto da cadeira e vão até o teto. Isso, nunca use aquelas barras para se escorar. Isso porque certa feita, estava eu como que abraçado a um desses balaústres quando uma pessoa que estava mais atrás pediu passagem. Como não podia ir para mais nenhum lugar, olhei em volta para as outras pessoas, com aquele olhar que você lança quando espera que um desconhecido tenha clemência da sua situação e se solidarize. Então descobri a fatídica lei. Quanto mais a pessoa forçava a passagem, eu sentia meu osso esterno, esse que fica na frente do tórax ligado às primeiras costelas, tocando levemente, por dentro, a minha coluna vertebral. Desnecessário falar que os pulmões e o coração ficam entre o esterno e a coluna, não? No mais, quando cheguei no meu destino, estava pior do que quando me levantei do sofá de casa para tomar banho porque estava fedendo, segundo a minha mãe, à macaco escaqueado à tapa.

Na volta, bem, na volta aproveitei que meu pai estava por perto e pedi para ele vir me pegar de carro. =)

Essa é a minha história do Paranjana. Com certeza, qualquer pessoa que embarcou nas linhas 041 ou 042 entre 1994 e 2010 deve ter muitas outras para contar. Descenessário falar também das infames piadinhas, como essa que minha tia acabou de contar quando viu que eu estou a escrever sobre o Paranjana, aquela que o motorista vinha em pé e o trocador de moto-taxi. Sentiu o drama, né?

Agora, para ir almoçar na casa da minha avó aos domingos, que fica perto da Oliveira Paiva, terei que pegar Parangaba-Papicu-Oliveira Paiva.

Interessante notar que agora são 4 linhas que fazem o percurso Parangaba-Papicu: O via Montese(44), o Via Santos Dumont(38), o Via Aeroporto(66) e mais esse. Interessante notar também...

- Desce negada, que vai encerrar!




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