9 de agosto de 2010

Rotina



Eu não sou Sherlock, mas às vezes um movimento ou olhar pode revelar muito, mais do que uma biografia não autorizada. Foi assim quando vi o velho.

Não precisei olhar duas vezes para ver que aquele velho cabisbaixo já caminhava a tanto tempo que esquecera aonde ia. Seus joelhos tremiam a cada passo. Seus cabelos ralos poderiam contar muitas histórias, a maioria tão banal. Mas e daí? Sempre existem aquelas que valem um conto.

Num instante, ele pára.

Continuo observando o velho , vejo agora sua face. Ele parece ter acordado de um longo transe. Tem rosto de povo. Tão diferente, ou tão familiar: pedreiro, carteiro, padeiro e mais uma infinidade de eiros no mesmo rosto, ou nenhum. Suas mãos trêmulas de dedos nodosos, tateiam os bolsos à procura de um volume inexistente. Desista velho.

Ele finalmente levanta os olhos. Vira-se e olha através da rua e de seus passos.

- Algum problema senhor?

- Oh, não tenho certeza garoto – disse ainda confuso –, acho que... acho que perdi algo. Algo pelo caminho. – rouquejou desviando o olhar novamente para rua.

Segui seus olhos. Só uma coisa me veio à cabeça enquanto procurava algo pra olhar:

- É velho. Eu também.


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